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A NBA e o Mercado de Ações

Atualizado: 2 de abr. de 2021

Por Jorge Sanches


Quando se pensa acerca do mercado de ações é comum vir à nossa mente bases de dados sofisticadas e técnicas de valuation com múltiplos peculiares. Sendo assim, consideramos a princípio que os conhecimentos aplicados nessa área são singulares e dificilmente vemos correlações com o cotidiano do indivíduo comum. Mas, e se eu te contar que podemos aproximar isso da nossa realidade, ou melhor, com um dos esportes mais famosos do mundo? É disso que esse texto trata, a liga americana de basquete através da ótica de um analista do mercado financeiro.


Até os leitores mais leigos alguma vez já ouviram falar das lendas do basquete, como: Michael Jordan, Kobe Bryant, LeBron James; ou das franquias mais famosas, como os Los Angeles Lakers e Boston Celtics. Se pensarmos nos jogadores como ativos e os times como grandes fundos de investimentos, veremos que seu sucesso não é por acaso, muito pelo contrário. É possível traçar paralelos com técnicas fundamentalistas que irão fornecer prospecções acerca das escolhas de elenco que irão trazer mais retornos para as franquias.


Quando abordo a questão dos retornos não quero me limitar apenas a receita das equipes, mas também ao seu sucesso dentro da competição. Não adianta obter um jogador que irá aumentar a receita das vendas de camisas exponencialmente, mas sua performance não será convertida em títulos ou resultados para equipe. Por outro lado, se a estrela do seu time não gera engajamento da base torcedora isso também é um problema, pois no final do dia estamos tratando de uma forma de entretenimento.


Mas de fato, como é possível fazer um valuation de futuras estrelas? Como escolher entre aqueles que terão maior potencial de desenvolvimento e aqueles que são apenas promessas (também chamados popularmente de “busts”)? Não é fácil. Requer muita análise e sempre há riscos. Se realizar essa análise com empresas listadas na bolsa já é um desafio, imagina realizar essa tarefa levando em conta indivíduos e suas mais diversas variáveis. Definir uma taxa de redesconto parece até fácil quando comparada a esse cenário.


Enquanto o mercado financeiro trabalha com uma base de dados sólida, as equipes de basquete analisam seus prospectos através de Rankings e Scouts (olheiros) desde jovens. Excepcionalmente, alguns jovens conseguem apresentar talentos fora da curva e ir diretamente do ensino médio para NBA, mas esse não é o caminho comum. Segundo dados, somente 0,03% dos graduandos de ensino médio conseguem alcançar a meta de se tornar um jogador profissional da liga americana (fonte: NCAA: National Collegiate Athletics Association).


Aqueles que se destacam nos rankings e nas avaliações conseguem as tão desejadas bolsas de estudos para as faculdades. Essa é a principal ponte para a liga, de forma que o desempenho dos atletas nessas competições seja de grande relevância para suas posições nos rankings pré Draft (momento de seleção/ingresso na liga). O ensino médio e o universitário devem ser enxergados como uma fase de maturação dos atletas. Durante esse percurso, os jovens desenvolvem suas habilidades, ou seja, consolidam seus fundamentos para o valuation das equipes.


A noite do Draft é o momento mais esperado da trajetória dos atletas. Nela, as equipes selecionam 60 calouros para ingressarem na NBA. As equipes escolhem seus prospectos de forma ordenada, de forma que suas posições sejam pré definidas por meio de um sorteio. É interessante ressaltar que o sistema desse sorteio favorece os times com piores desempenho na temporada, fornecendo, assim, uma oportunidade competitiva para as piores equipes. E agora que entra a magia do valuation e dos trade offs impossíveis. Como selecionar o jovem que vai se tornar a próxima estrela daqui a 5 anos? Pois opior para uma franquia é olhar para trás e perceber que deixou a oportunidade de selecionar um astro passar.


Dos 10 melhores jogadores atualmente da liga, apenas dois foram selecionados em primeiro lugar no Draft, enquanto os melhores de todos os tempos foram escolhidos em terceiro e décimo terceiro lugar, respectivamente. Portanto, é possível perceber que é extremamente difícil realizar a melhor escolha e, por outro lado, muitos primeiros colocados não correspondem às expectativas.





Atualmente, tudo o que tange dados quantitativos é registrado por programas de análise sofisticados, em que é possível realizar diagnósticos minuciosos acerca das habilidades dos atletas. Além disso, as equipes dispõem de psicólogos esportivos especializados para selecionar os indivíduos que podem se adaptar melhor à equipe. Mas tudo isso parece não estar gerando bons resultados de escolha, em detrimento dos fatores não mensuráveis.


Apesar da ciência afirmar que o indivíduo alcança seu máximo de rendimento físico, aproximadamente, entre 18 e 22 anos, é extremamente complexo quantificar a capacidade de desenvolvimento de um atleta, sua propensão a lesões ou se o indivíduo possui a “mamba mentality” (termo referente a mentalidade de campeão, associada ao ex-atleta Kobe Bryant). Dado esse cenário de grande incerteza acerca das variáveis que circundam essa escolha, é possível traçar um perfil, um tanto quanto conservador, sobre as decisões de primeiro lugar.


A escolha do primeiro selecionado do Draft resulta muitas vezes do somatório das melhores combinações de aptidões físicas junto a uma trajetória tradicional do atleta. Os “gestores” dessas equipes parecem ter grande aversão a tomar risco de escolhas estrangeiras, como é o caso do sloveno Luka Doncic (que já era considerado um dos melhores jogadores da Europa aos 16 anos) e o grego Giannis Antetokounmpo. E muitas vezes o somatório dessas características físicas não resulta nos atletas com melhores desempenhos, como é o caso de Stephen Curry, que com apenas 86 quilos e 1,91 de altura (considerado baixo para os padrões da liga) é considerado o melhor arremessador de todos os tempos.


A reflexão que deixo é um tanto quanto filosófica, em que a soma de indicadores positivos aliada a uma estratégia conservadora não vem apresentando o melhor resultado para as equipes, mas traria para seu portfólio de ações? Não é sempre que vemos as empresas com melhores fundamentos apresentando os melhores retornos e, da mesma forma, se perde inúmeras oportunidades por aceitar riscos limitados. Não existe fórmula para o sucesso, independentemente da área em questão. Tudo está voltado para o trade off fundamental entre risco e retorno.


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