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Entrando numa Fria: Rússia de 1990 e risco de crédito

Por Diego Semeraro


A década de 90 foi marcada por uma crise na Russia. Logo após a dissolução da União Soviética, o país se apoiou em medidas de curto prazo para a reabertura da economia e a retomada do setor privado. Essas medidas, porém, levaram a uma inflação galopante e a fuga de capitais, que causaram violenta desvalorização do Rublo.


Em 1995, como resposta a essa situação, adotou-se uma política de câmbio fixo, onde estabeleceu-se uma pequena margem de variação para a moeda. Para lutar contra os pedidos do mercado de maior desvalorização e adequar o Rublo a nova meta estabelecida, o banco central tomou uma medida que caracterizou esse período: aumentou astronomicamente os juros, fazendo com que a taxa real, mesmo com inflação elevada, batesse incríveis 70%.

Para se ter uma noção do quão elevada é essa taxa, cito o Brasil, que hoje possui uma das maiores taxas reais de juros do mundo, em torno de 2,4%.


Tudo indica que investidores do mundo todo mandaram seu capital para Rússia, sonhando com o montante de dinheiro que ganhariam desse empréstimo, certo? Não exatamente.

Houve sim um aumento do fluxo de entrada de capitais (Investidores externos foram responsáveis pela compra de 1/3 dos títulos públicos). Esse, porém, foi muito abaixo do esperado e não conseguiu superar o fluxo de saída. Sem reservas externas o suficiente, a política de câmbio fixo esgotou os dólares do país e deteriorou a já péssima situação russa.

Por que, apesar desse grande chamativo, a Russia não conseguiu convencer os investidores internacionais de injetar dinheiro no país?


Os anos noventa foram bem turbulentos. A reabertura foi marcada por políticas contracionistas falhas e um alto grau de corrupção nas instâncias governamentais. Muito dinheiro saía do país ilegalmente e as privatizações se deram de maneira irregular, dando bilhões na mãos de poucos e aumentando a desigualdade social. Pelo aumento da taxas de juros, muitos bancos privados internos pararam de investir em diversos setores e focaram seus recursos em títulos do governo, o que contribuiu à geração de desemprego e aumento da dívida interna. Esses fatores internos, aliados à queda do preço do petróleo e uma desconfiança sobre os países emergentes em geral, fizeram com que as agências de risco dessem notas baixíssimas para a Russia.


O que são essas agências e o que significa essa nota para um país?


As agências de classificação de risco de crédito são especializadas em qualificar produtos financeiros ou ativos segundo o grau de risco de que não se pague a dívida na data acordada. Sua escala confere o grau e separa agentes em 2 subgrupos principais: grau de investimento, para agentes que apresentam maior segurança quanto ao pagamento da dívida, e o grau de especulação, para agentes instáveis de maior risco quanto a quitação da mesma.


As 3 principais agências (Standard & Poor's, Fitch, Moody’s) são muito respeitadas pelos investidores e são grandes influentes no fluxo de capitais internacional. No cenário econômico contemporâneo, é de extrema importância para um país ganhar e manter um grau de investimento, pois isso aumenta sua visibilidade ao investimento estrangeiro. No caso russo - retornando ao caso tratado ao longo do texto -, ao ganhar uma avaliação ruim, muitos investidores preferiram não arriscar seu dinheiro no país, mesmo com a promessa de ganhos muito maiores do que a média mundial. Após o calote de 1998, a Russia atingiu suas piores notas já registradas: CCC pela Fitch, SD pela S&P e Ca pela Moody’s.

Num exemplo recente, o Brasil após o agravamento da crise política e econômica em 2014, perdeu colocações nas agências de investimento. Após diversos rebaixamentos de seu grau, o Brasil voltou ao grau de especulação, de onde havia saído em 2008 pelas agências Fitch e S&P, e em 2009 pela Moody’s. A cada grau que se perde, menos investidores em potencial entendem como proveitoso colocar seu capital aqui.


Diego Semeraro, estudante de Economia da UFRJ.

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