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Esboços para um retrato da Petrobras

Atualizado: 12 de jul. de 2022

por: Eudes Barros e Matheus França


A Petrobrás foi fundada em 1953 pelo então presidente Getúlio Vargas. Sua criação teve motivos tanto econômicos como políticos, visto que no momento existia a famosa campanha popular chamada "O Petróleo é nosso", onde o intuito era fazer do Estado o principal agente desse mercado no Brasil, se tornando o único responsável pela produção, exploração, refino e transporte de petróleo no país.


Em 1961 veio a primeira refinaria, em Duque de Caxias (RJ), em 1968 a primeira plataforma marítima e em 1974 foi descoberta a imensa bacia de Campos, se tornando a maior área de exploração no país e uma das maiores da América Latina.


Contudo, em 1997, o monopólio da companhia foi quebrado, permitindo outras empresas a realizar as atividades atribuídas à Petrobrás. Além disso, a empresa virou uma companhia de capital mista, sendo dividida entre o Governo e o setor privado, sendo a União o maior acionista da empresa. Apesar de na teoria o monopólio ter sido quebrado, na prática a Petrobrás ainda ficou com poderes dignos de monopolistas, já que poucos concorrentes vieram ao Brasil, uma vez que, para obter sucesso nesse setor, alguma empresa teria que competir com uma gigante em solo brasileiro que muitas vezes tem o poder de manipular preços, afetando as margens de lucro. Outro ponto a se destacar é o de que, devido a essa quebra, o dilema político do preço de mercado da gasolina e o preço que a Petrobras deve cobrar começou a ficar mais à tona.


Durante o começo do século XXI, a companhia viveu um excelente período, com o preço do petróleo em níveis historicamente altos. Entre 1997 e 2007, o preço do petróleo subiu mais de 300%, devido à alta demanda por commodities na China, uma economia pujante que crescia a taxas cavalares por ano, um balanço organizado e uma melhora de eficiência na extração de petróleo.


Além disso, em 2006, no meio dessa maré positiva, veio a descoberta do Pré-Sal, uma área de reservas petrolíferas debaixo de uma camada profunda de sal, sendo essa área a 300 km da costa, indo de Espírito Santo até Santa Catarina, tendo poços de altíssima qualidade a 7000 metros de profundidade. Além de ser uma reserva extremamente rica, a tecnologia da Petrobrás consegue capturar esse petróleo com uma produtividade altíssima, a deixando com uma vantagem competitiva invejável. Abaixo, segue um gráfico com a trajetória do preço do Petróleo e do preço da ação da companhia, que valorizou mais de 600% no período (1997-2007).



Foi nessa época também que a Petrobrás iniciou estudos para viabilidade de investimentos no setor de refino da companhia, já que apesar da Petrobrás extrair muito petróleo, a maior parte desse montante tinha que ser enviado para refinarias no exterior para depois a companhia comprar e vender no mercado. Visando corrigir esse gargalo e integralizar a operação, os investimentos no setor de refino começaram a ficar mais robustos.


A Petrobras seguiu com bons resultados nos anos seguintes, até os problemas ficarem expostos em meados de 2014. Com a deterioração do cenário macroeconômico brasileiro, a queda brusca do preço do barril do petróleo entre 2013 e 2014, ficando em patamares baixos por longo período de tempo, as políticas de canalização de investimento da companhia que começavam a não dar retorno, como as refinarias da companhia, e com os escândalos conhecidos como "Petrolão" expostos ao grande público, a empresa começou a sofrer bastante.


A dívida chegou a patamares insustentáveis, o risco político aumentou substancialmente e agora o cenário era totalmente desfavorável, com o preço do petróleo em baixa e com uma recessão na economia brasileira. Abaixo segue um gráfico do preço do barril de petróleo Brent entre 2011 e 2018.



Em meio a esse cenário caótico, a Companhia conseguiu dar uma reviravolta bem sucedida a partir de 2016, começando um processo de desinvestimento em ativos não essenciais, amortizando parte das dívidas, gerando mais de R$ 20 bi em caixa em menos de 4 anos, aumentando as margens e seguindo a paridade de preços internacionais. Além disso, a empresa aderiu a todos os processos do departamento de justiça dos Estados Unidos, participando de diversas auditorias, com o intuito de melhorar a imagem da sua governança após os escândalos de corrupção delatados. Assim, depois de 4 anos de prejuízo operacional na companhia (2014-2017), no ano de 2018 a companhia demonstrou um lucro de, aproximadamente, 26 bilhões de reais, tendo seguido essa mesma lógica nos anos seguintes, quebrando recordes atrás de recordes em termos de lucro. Um novo possível ciclo positivo das commodities estava se formando a partir de 2019 e a Petrobras já estava bastante organizada para usufruir de todo esse ciclo, contudo veio a Pandemia do COVID-19 e o cenário mudou totalmente.


Desde a posse do presidente Jair Bolsonaro, algumas variáveis no mercado internacional acabam afetando o preço do petróleo no cenário doméstico. Em geral, a pandemia trouxe um choque relevante na cotação do barril, chegando a valores de U$$ 18,00 / barril, bem abaixo da cotação pré-epidêmica, o que provocou um corte expressivo na oferta da commodity pela OPEP, em busca de restabelecer o equilíbrio de preços.


Com a evolução da vacinação e relaxamento das restrições causadas pelo COVID 19, a demanda por petróleo voltou a se aquecer, entretanto, a OPEP estabeleceu um plano de aumento gradual, o qual não condizia com o volume almejado pelos agentes econômicos, gerando pressão altista nos preços do petróleo. Outro fator relevante foi o aumento abaixo do esperado da produção da commodity nos EUA, onde houve uma pressão dos investidores para uma mudança por estratégias mais inteligentes das empresas, priorizando o crescimento das receitas e maiores lucros frente a uma expansão de oferta maior.


A partir desse panorama, a apreciação do preço internacional do petróleo trouxe um processo de exportação mais contundente para o Brasil, fato que traria resultados positivos para a companhia. Contudo, a volta da pandemia, com restrição de oferta ainda vigente e uma demanda aquecendo, cria-se um ambiente inflacionário mais contundente, de modo que um dos principais pontos para o índice foi a questão dos combustíveis, visto o cenário de crise hídrica, principal matriz energética do país e a pressão externa elencada acima. Esse movimento já caracterizava historicamente um aspecto preocupante, visto que a demissão do ex-presidente da Petrobrás Roberto Castello Branco e a troca pelo General Joaquim Silva e Luna ocorreu em decorrência de aumentos expressivos e contrários ao almejado por Jair Bolsonaro, embora seguindo a política de paridade de preços da companhia.


Já o novo presidente, General Joaquim Silva e Luna conseguiu ficar certo tempo no comando da empresa, embora o quadro inflacionário ainda estivesse em vigor. A questão do Auxílio Brasil junto a precatórios e o iminente rompimento do teto de gastos foram temáticas que tomaram os holofotes no final de 2021 e junto a crise hídrica, acabaram deslocando um pouco esse tema das pautas prioritárias. Entretanto, com a resolução desses entraves fiscais e melhora nos índices pluviométricos, voltou-se à tona as elevações dos preços dos combustíveis para o início de 2022, sobretudo a gasolina e o diesel, onde neste a ameaça de greve pelos caminhoneiros, além da insatisfação da população com os custos para se deslocarem refletirem pontos relevantes para maior preocupação do governo, ainda mais considerando ser ano eleitoral e com tentativa de reeleição, o qual fez com que o congresso e os ministérios iniciaram estudos para medidas que diminuiria os preços ou manteriam estáveis.


Entretanto, com o conflito entre Rússia e Ucrânia, a restrição de oferta do petróleo e outros insumos devido às sanções impostas à Rússia, junto a precificação de risco caso haja o corte do transporte de gás, matriz energética relevante para diversos países da Europa, trouxe uma elevação notária na cotação das commodities, acarretando em novos reajustes na Petrobrás para se equilibrar com os preços internacionais.


Tendo em vista a posição já definida pela companhia de não desviar da política de preços, o anúncio de dividendos expressivos a serem distribuídos para os acionistas (R$ 101 bilhões) trouxeram ainda mais tensão para o governo, visto que apesar de deter 30% das ações da companhia, preferiria que a Petrobrás utilizasse parte desses lucros para estabelecer o preço dos combustíveis. Este também foi o primeiro ponto de maior preocupação do mercado, visto a convocatória da diretoria da empresa e do presidente, com argumento de distribuição acima da obrigatória prevista por lei, para prestar contas sobre os ganhos mesmo com o cenário bem favorável no mercado internacional já demonstram a primeira tentativa de interferir nas decisões ainda que futuras sobre os dividendos.


Neste ponto, com esse cenário deteriorado para o general Joaquim Silva e Luna, o anúncio do aumento de 25% no preço do diesel e 19% no da gasolina, além de outros combustíveis, ocasionaram em sua demissão. Quanto ao motivo expresso para os aumentos, o risco de desabastecimento e a alta cotação do dólar foram os principais pontos elencados para o reajuste. Podemos notar o receio do mercado frente a demissão e intervenção mais direta na queda das ações no dia do ocorrido , fechando em queda de 2,17%, o que só voltou aos patamares anteriores com a confirmação de José Mauro Coelho para o comando da companhia.


Contudo, este último permaneceu apenas 40 dias no comando da companhia, primeiramente, com o anúncio da do Ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque, o qual alega repetidas tentativas de interferência nos preços pelo governo e com o anúncio de Adolfo Sachsida para o cargo, junto as perspectivas de outro aumento no diesel e possíveis greves dos caminhoneiros caso ocorresse tal fato, já traziam indícios para a saída, embora o prazo tenha sido extremamente curto para a gerência da Petrobrás, de modo que atualmente o nome indicado para o comando da empresa é Caio Mario Paes de Andrade, assessor do Ministro da Economia Paulo Guedes. Neste ponto,temos novamente um impacto relevante com a troca de comandos e o clima de incerteza gerado, onde a queda nas ações da companhia foram de 3,06%.


Deste modo, apesar do cenário internacional benéfico para a companhia, com perspectivas de alta geração de receitas provenientes das vendas do petróleo e derivados neste ciclo de alta das commodities, diversos fatores econômicos, como inflação e aumento no preço dos combustíveis neste ano de eleições criam um ambiente conturbado e de impopularidade para o governo. Neste ponto, as perspectivas são de utilizar todas formas disponíveis para a resolução deste entrave, e visto que as propostas fiscais sobre a incidência nos impostos parecem apenas compensar o cenário de alta no mercado de commodities e com algumas visões já se estabelecendo de desabastecimento global do diesel, temos que a interferência cada vez mais direta na política de preços da Petrobrás, congelando artificialmente os preços dos combustíveis as custas de prejudicar o desempenho da companhia parece ser uma estratégia do governo frente ao cenário eleitoral próximo. Além disso, apesar da companhia ser exportadora líquida de petróleo bruto, ainda é necessário a importação dos refinados, o qual estarão cotadas no preço do mercado internacional e os custos caso uma medida desse porte seja tomada pela companhia ficaria toda para ela, pois os importadores atuais não comprariam caro o produto no exterior e venderiam a preços baixos, trazendo prejuízos para si mesmos, criando assim uma perspectiva negativa no curto e médio prazo para a companhia.


Quanto ao longo prazo, podemos esperar esse tipo de flutuação, onde comumente a companhia é afetada nesses períodos eleitorais. Entretanto, tendo em vista alguns pontos de campanhas dos candidatos para outubro deste ano, transmite-se uma perspectiva de aumento da participação do governo na companhia, com algumas propostas como compra de ações e maior participação no quadro acionário, o que junto ao panorama atual pode implicar em pontos a se observar por parte do mercado em si.

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