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Explicando o Bitcoin

Por Ruan Sousa

 

Nos últimos anos, tem sido cada vez mais comum a veiculação de notícias e informações a respeito do mercado de criptoativos. Geralmente, é comum a repercussão de fortes valorizações e desvalorizações, investidores institucionais relevantes aderindo ao transacionamento nesse mercado, países e autoridades discutindo sobre o tema, dentre outros assuntos semelhantes.


Contudo, é importante salientar que criptoativos são uma classe geral de ativos, que englobam tokens, criptomoedas, protocolos, blockchain, dentre outros. Já as criptomoedas são uma subclasse contida nesse conjunto, como Bitcoin e Dogecoin, por exemplo. Feita essa distinção, vamos falar sobre o famoso Bitcoin.


No mercado de criptomoedas, o Bitcoin foi o pioneiro, cuja popularidade e relevância é maior a cada dia, tendo uma escalada de preço muito abrupta desde seu início. Sendo assim, quais são suas principais características? É possível defini-lo como uma moeda totalmente digital e independente, visto que não depende de autoridades monetárias como Bancos Centrais ou de intervenções governamentais para ser utilizado ou emitido. Suas funções principais são a unidade de conta, ser meio de troca e reserva de valor, e seu valor final é determinado de acordo com a credibilidade que os agentes atribuem a ele, ou seja, pelas forças de mercado, sendo a interação entre a demanda e a oferta (fixa no caso do Bitcoin), fornecendo-nos o preço, não possuindo lastro.


E qual foi o contexto de origem dessa criptomoeda? Tudo aconteceu em 2008, por meio de um indivíduo ou um conjunto de pessoas não conhecidas publicamente, cujo pseudônimo utilizado era Satoshi Nakamoto. Mais de uma década depois, alguns se intitulam como o criador do ativo, mas não se sabe ao certo a identidade dos responsáveis. Dito isso, através da publicação de uma tese conhecida como “white paper”, que consistia na livre distribuição de dados em um fórum aberto de discussão online sobre criptografia, foram explicitadas as características e funcionamento do ativo, e a partir desse evento, surgiu o Bitcoin. É importante mencionar que essa ideia já havia sido citada em discussões cyberpunk (sites de discussão online), todavia, não se concretizou na época.


Como abordado anteriormente, o Bitcoin precisou de um período para ser uma realidade nos portfólios dos investidores. Ainda que hoje seja um ativo extremamente popular, não possui a mesma aceitabilidade das moedas tradicionais. Apesar disso, lojas, franquias e países como El Salvador aceitam pagamentos por meio da moeda.


Nesse sentido, há uma história muito curiosa, verídica, ocorrida 10 anos atrás, e conhecida como “Bitcoin Pizza Day”. Laszlo Hanycez usou 10 mil bitcoins para a compra de 2 pizzas na rede Papa John 's. Uma década depois, vimos uma valorização muito intensa do Bitcoin, como pode ser visualizada no gráfico abaixo, valendo mais de 40 mil dólares atualmente. Será que as 2 pizzas valeram a pena?


Valor de mercado do Bitcoin em USD (2010 - 2021)

Investing | Elaboração Própria


No que tange a sua dinâmica de funcionamento, consiste no uso da criptografia juntamente com uma rede peer-to-peer. Enquanto a primeira centraliza-se na impossibilidade de desvendar códigos de detentores da moeda, a segunda garante a distribuição do blockchain a todos eles.


Essa estrutura de blockchain é responsável pelo armazenamento dos dados de todas as transações envolvendo a moeda, sendo considerada como um livro razão, que remove os intermediários e estabelece confiança entre as partes em negociação, Toda memória é armazenada digitalmente em “blocos” ligados em uma cadeia, - por isso o nome blockchain -, de forma que seus registros são totalmente públicos e acessíveis.


Mas como os bitcoins são criados, uma vez que é um ativo independente do intermediador monetário? Os bitcoins são fornecidos no mercado a partir da "mineração" de moedas, sendo requisito fundamental para a emissão do ativo a sua “validação”. Esse processo caracteriza-se pelo uso da força computacional, que tem como objetivo efetuar os cálculos matemáticos a fim de desvendar os algoritmos propostos. Assim, quando esse processo é concluído, o minerador recebe uma recompensa determinada pelo próprio algoritmo e novos bitcoins são emitidos.


O custo para realizar esse processo é muito alto, abarcando os gastos com segurança, utilização de energia, além de toda a estrutura tecnológica extremamente sofisticada que é necessária. Dessa forma, destacam-se as “fazendas de mineração”, ou “minas de Bitcoin”, localizadas geralmente em países com baixo custo de energia, ou com alta disposição de fontes de energias renováveis.


No gráfico abaixo, conseguimos visualizar onde se encontram esses indivíduos encarregados pela mineração de Bitcoin, concentrando-se em sua maioria na China, com 53,5% dos mineradores. Logo em seguida, Estados Unidos com quase 13,7% e Canadá com 12,8%, além de Islândia, Noruega, Geórgia, Rússia, e Suécia tendo 4% cada. Portanto, o clima frio é favorável para os mineradores, pois em climas quentes são exigidos mais energia para a refrigeração das máquinas mineradoras.


Distribuição Geográfica de mineradores de Bitcoin com base no Modelo de Linha de Base de Atribuição

Environmental Science & Technology | Elaboração Própria


A China, sendo o local preferido dos mineradores de Bitcoin, segundo estudo da revista Environmental Science and Technology, despertou a atenção do Governo Central, intervindo e buscando esses indivíduos. Diante disso, a tendência é a mudança de parcela significativa dessas pessoas, sempre visando eletricidade barata, internet rápida e baixas temperaturas, como na Escandinávia, América do Norte ou Rússia, por exemplo. É importante mencionar, que não há unanimidade de dados com relação à distribuição local dos mineradores, com bases estatísticas divergentes entre si.


Ainda em relação às implicações ambientais que o processo de geração do Bitcoin causa, há também a parcela de contribuição para a Pegada de Carbono que cada cidade dos residentes da mineração tem para o meio ambiente. Em primeiro lugar encontra-se a China, seguida por Canadá e Rússia, ilustradas pelo gráfico a seguir.


Contribuição para a Pegada de Carbono, por cidade

Environmental Science & Technology | Elaboração Própria


Cerca de 18 milhões já foram minerados, e a previsão é que o último Bitcoin seja minerado em 2140. Além disso, é de suma importância ressaltar que a cada Bitcoin minerado, a recompensa cai pela metade, além de aumentar o nível de dificuldade dos cálculos matemáticos para a emissão da criptomoeda.


Em relação a análise do ativo, uma métrica importante é a Taxa total de Hashs, que consiste na quantidade de blocos de Bitcoin que foram minerados nas últimas 24 horas e na dificuldade de mineração dos blocos atuais. Essa taxa é variável e, através da análise do gráfico abaixo, é possível visualizar uma correlação com o preço da criptomoeda, oscilando e performando de maneira muito semelhante.


Taxa total de Hashs TH/s x Preço do Bitcoin em USD

Blockchain.com | Elaboração Própria


Mas como os agentes enxergam e movimentam os preços do Bitcoin? Elon Musk, CEO da Tesla Motors, empresa automotiva que trabalha principalmente com veículos elétricos, se notabilizou por contribuir para mudanças no preço do Bitcoin através de falas e tweets. Por meio desses tipos de ações, os indivíduos são altamente influenciados, se mobilizando para a compra do ativo, aumentando a demanda e consequentemente o preço. Simples postagens no twitter fazendo alusões a moeda, ou declarações em entrevistas, falando sobre a Tesla aceitar pagamentos por meio do ativo geram fortes repercussões no mercado.


Portanto, é possível concluir que o Bitcoin é uma moeda digital inovadora e pode ser considerada o maior vetor do mercado de criptomoedas, sendo cada vez mais demandada e popularizada ao redor do mundo. Os mecanismos estruturais tecnológicos como a rede blockchain e sua independência agradam o investidor, fornecendo-lhes independência dos intermediários. Entretanto, é um ativo extremamente instável, que oscila muito, além de não ser simples de analisar como ações e títulos de renda fixa, cuja literatura e metodologia de análise é muito mais extensa e conhecida pelos players do mercado.






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