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CONTEXTUALIZAÇÃO E MEDIDAS DO PRIMEIRO ANO DO GOVERNO MACRI

Atualizado: 17 de nov. de 2020

Por Lucas Gaudeoso


Argentina, um país incrivelmente complicado para um presidente completar seu mandato: ou são derrubados – houve inúmeros golpes de Estado -, ou são mortos ou simplesmente abandonam o cargo. Entretanto, em 2003, iniciou-se um período que fugiu à regra. No referido ano, Néstor Kirchner assume a presidência e inicia um período populista, estatista e dito social democrata, sob influência do peronismo. Foram no total 12 anos que os Kirchner estiveram no poder, tendo Néstor cumprido um mandato e sua esposa, Cristina, tendo cumprido mais dois mandatos, até dezembro de 2015, quando Mauricio Macri fora eleito.


Macri tem experiências tanto no setor privado, como empresário (fora presidente do Boca Juniors) e engenheiro, tanto como no setor público, como deputado e prefeito de Buenos Aires. Como gestor e liberal, seu posicionamento político-econômico destoa fortemente do que propusera e fizera o kirchnerismo na Argentina. Nesse sentido, uma série de novas reformas seriam esperadas, mas não só em razão da transição ideológica: o presidente herdou uma situação de grande fragilidade de natureza econômica, política e social; estando diante ainda de entraves como o fato de sua base ser minoria nas duas câmaras do parlamento e de praticamente todos os sindicatos irem contra as suas medidas.


O seu mandato inicia-se com medidas evidentemente impopulares, a fim de conter a inflação, que já estava em 27%, e reduzir o grave déficit orçamentário, até então representado por 7% do PIB. Houve inicialmente uma demissão em escala em relação ao funcionalismo público para enxugar custos, sob o pretexto do excesso de cargos gerados na gestão Kirchner e do aumento da produtividade. Todavia, num segundo momento, ele abriu novas vagas públicas.


Outra postura importante foi e está sendo a abertura do país ao capital estrangeiro após mais de uma década de práticas protecionistas e isolacionistas. Nesse sentido, Macri realizou um fórum econômico que atraiu grandes investidores internacionais e reabriu diálogo e renegociação dos fundos (intitulados “fundos abutres”) que captavam boa parte desse capital internacional, os quais sofreram calote em 2001 por parte da Argentina e desde então têm sido negligenciados. Lembrando também que a instabilidade/imprevisibilidade política e econômica é um agravante que ainda inibe esses investidores apesar das tentativas do presidente. O país também passa flexibilizar o controle cambial, o que permite a maior compra de dólar e o maior intercâmbio de divisas entre empresas transnacionais na Argentina e os seus respectivos países-sede.


Outra questão polêmica do seu governo é o denominado “tarifaço”, que nada mais foi que o corte dos enormes subsídios a empresas que estavam sendo intensificados durante toda gestão de Cristina Kirchner, gerando congelamento artificial de preços – bem abaixo do mercado – que causaram escassez, prejuízos crônicos e praticamente a falência de algumas empresas. Os subsídios com energia, água e transporte em relação ao PIB passaram de 1,3% quando a presidente assumiu em 2007 para 4,8% do PIB em 2015 quando terminou seu mandato em dezembro. O recente descongelamento dos preços chegou a provocar aumento na ordem de 700% no preço da eletricidade, por exemplo. Macri sofre duras críticas pela população ao não fazer um reajuste mais gradual dos preços. Um outro fator que contribui fortemente para a inflação argentina – hoje 40,5% - nesta década é a impressão de moeda para o pagamento do crescente déficit público, medida que continua sendo praticada por Macri apesar de criticá-la.


Em geral, índices importantes como inflação, desemprego e pobreza sofreram aumentos expressivos na recente transição do governo e se mantém nos novos patamares, todavia existe uma dificuldade real ao estabelecer comparações estatísticas entre os diferentes governos, uma vez que houve imprecisão por parte dos Kirchner na divulgação dos respectivos dados de seu mandato. Independentemente disso, os níveis atuais são preocupantes e não será fácil a promoção das mudanças/reformas necessárias e tampouco haverá um resultado efetivo imediato.


Lucas Gaudeoso, estudante de Economia na UFRJ


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