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James Hunt x Niki Lauda: O que a maior rivalidade das pistas diz sobre o mercado financeiro

Atualizado: 21 de nov. de 2020

Por Paulo Victor Gonçalves Pinto


O ano de 1976 teve vários acontecimentos importantes para a economia. Foi o ano de início da abertura comercial da China em meio a guerra fria, o prêmio Nobel de economia foi dado a Milton Friedman por suas realizações nos campos da análise do consumo, da história monetária e da teoria e demonstração da complexidade da política de estabilização. Além disso, Steve Jobs e Steve Wozniak fundaram a Apple Inc. uma das empresas mais valorizadas do mundo atualmente.


No entanto, foi nas pistas de corridas em que o ano foi marcante. Conhecido como a maior rivalidade da história da Fórmula 1, 1976 foi o ano da incrível disputa entre os pilotos James Hunt, da McLaren, e Niki Lauda, Da Ferrari. Durante quase todo o campeonato Niki Lauda, que já havia sido campeão mundial em 1975, vinha liderando com folga o campeonato. No entanto, um grave acidente no Grande Prêmio da Alemanha, deixou Niki Lauda hospitalizado e fora das corridas seguintes, dando a possibilidade de James Hunt alcançar a pontuação de Lauda. No último GP do ano, no Japão, de uma forma heroica, Hunt terminou em terceiro, ultrapassando em pontos Niki Lauda e ganhando o título mundial de fórmula 1.

A história por trás dessa rivalidade pode ser vista, com um toque de licença poética, no filme Rush (2013). Mas o que a história sobre a maior rivalidade da fórmula 1 tem a nos ensinar sobre o mercado financeiro?


James Hunt e Niki Lauda são como estereótipos de duas personalidades diametralmente opostas, e elas podem ser vistas tanto nas pistas como em qualquer bolsa de valores. Hunt era um inglês charmoso e bon-vivant, conhecido como "o último piloto romântico da fórmula 1", era extremamente agressivo nas pistas. Seus companheiros de equipe diziam que ele sabia fazer apenas duas coisas: sentar no carro e acelerar, visto que estava mais preocupado em curtir a vida e esbanjar a glória de ser um piloto e campeão mundial de fórmula 1 do que de ter uma boa performance consistente nas pistas. Do outro lado, Niki Lauda era um austríaco extremamente metódico e centrado, não se arriscava mais do que ele considerava 'seguro' e tratava o automobilismo de forma muito mais profissional que seu rival.

Esses dois arquétipos podem ser vistos no mercado financeiro. Todo ano, mais e mais pessoas entram no mercado querendo ser o 'James Hunt das Bolsas de Valores', inspirados pelo glamour hollywoodiano de filmes como “O Lobo de Wall Street” (2013), “Wall Street: Poder e Cobiça" (1987) e muitos outros. Buscam esbanjar as alcunhas de 'investidor', 'trader' ou 'especulador'. Assim como James Hunt, que bebia e usava drogas antes de dirigir nas pistas, o consumo de drogas entre os jovens do mercado financeiro cresce cada vez mais.


Do outro lado do pódio financeiro, encontramos também investidores como Niki Lauda. Altamente cartesianos, eles buscam uma vida duradoura e muito lucrativa com seus investimentos. Antes do Grande Prêmio da Alemanha, em 1976, Lauda convocou uma reunião com os pilotos e com a FIA (Federação Internacional do Automobilismo) pedindo a suspensão da corrida devido a fortes chuvas, que aumentavam os riscos de


acidente durante a corrida. Todavia, seu pedido não foi acatado e na corrida o próprio Lauda sofreu um acidente que quase custou a sua vida, sua carreira e o fez perder o campeonato. Investidores como Lauda buscam nunca assumir mais riscos do que eles podem lidar, protegendo ferozmente o seu capital em momentos de insegurança no mercado.

Mas para quem está entrando no mercado financeiro, qual arquétipo de investidor deve ser tomado como um modelo a ser seguido? O investidor James Hunt ou o Niki Lauda? Essa resposta já parece óbvia para alguns, mas, assim como a história do mercado financeiro, as pistas nos mostram que os maiores vencedores são os Niki Lauda’s. Pessoas como Warren Buffett, Benjamin Graham, George Soros, dentre outros nomes de destaque sempre estiveram do lado "metódico, seguro e consistente" de se performar no mercado. Portanto, assim como Niki Lauda, que teve uma duradoura carreira de 14 anos conquistando 3 mundiais, 25 vitórias e 52 pódios, são essas pessoas que irão construir bases sólidas e eficientes nesse mercado tão voraz.


Investidores à la James Hunt tendem a não durar no mercado, como o próprio Hunt durou apenas 6 anos na fórmula 1, conquistando apenas 1 mundial e 10 vitórias. Às vezes buscam enriquecer mais rápido do que podem através de esquemas corruptos, como novamente Hunt foi desclassificado no GP da Espanha por irregularidades em seu carro, ou como o próprio Jordan Belfort, que foi preso por lavagem de dinheiro e fraude em valores mobiliários. Em casos mais extremos, podem não suportar a pressão do mercado financeiro e morrerem ou se matarem, como Hunt teve o seu fim trágico com apenas 45 anos vítima de um ataque cardíaco.

Quando se trata de finanças, o campeonato possui mais do que 16 corridas, e performar de forma consistente é mais do que necessária. Portanto, para isso, é importante ter foco, disciplina e, o mais importante, ter visão de longo prazo. Por um mercado onde haja mais Niki Lauda’s do que James Hunt’s, para que assim, já que o mercado não é um jogo de soma zero, todos possam chegar ao pódio.


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