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Mercado da Bola - Capítulo 3: Cristiano Ronaldo e os riscos de se investir em clubes de futebol

Atualizado: 21 de nov. de 2020

Por Paulo Victor Gonçalves Pinto


No capítulo de hoje de nossa série ‘Mercado da Bola’ iremos abordar os riscos de se investir em um clube de futebol listado nas bolsas de valores e como um caso recente de acusações de estupro envolvendo o craque português Cristiano Ronaldo podem influenciar na volatilidade das ações futebolísticas.

Atualmente há diversos clubes listados na bolsa de valores ao redor do mundo. Inclusive a italiana Juventus conseguiu recentemente integrar o principal índice de ações do país, o FTSE MIB. No entanto, o sucesso de aporte de mercado da Juventus não pode ser dito aos outro clubes de capital aberto, eles estão longe de serem considerados “blue chips” (empresas de grande porte das bolsas de valores).


Investir em clubes pode trazer um bom retorno, no entanto, questões específicas tornam o mercado do futebol tão arriscado para investimentos, dentre eles está na dificuldade de se conseguir precificar um time. Um time de futebol não se comporta como uma empresa tradicional, ele não está focado somente em realizar lucro, mas também conquistar títulos, e para muitos clubes, conquistar títulos é mais importante do que ter um sucesso financeiro. Pensando nisso, é difícil você imaginar um clube que irá optar em pagar dividendos a seus acionistas em vez de utilizar o lucro para contratar novos atletas ou reformar o estádio da equipe.


Outro aspecto bastante relevante ao se analisar times de futebol de capital aberto está em sua volatilidade. Em um estudo realizado pelo mestre em ciências contábeis Diego Rodrigues Boente, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, analisou-se o resultado financeiro dos clubes Ajax da Holanda, Borussia Dortmund da Alemanha, Porto de Portugal e Juventus da Itália de 2005 a 2009. O estudo constatou a alta volatilidade do preço das ações desse clube, que representam uma parcela considerável do mercado de ações futebolístico (17,39%). Dentre os clubes analisados, o que apresentou maior risco de investimento foi o Borussia Dortmund, com os retornos sobre as ações variando entre o intervalo de 30% e -30%. Além disso, a Juventus da Itália constatou a maior volatilidade do período, aproximadamente 13%. Também foi no time de Turim onde foi encontrado o pior retorno de capital, entre os meses de março e junho de 2006, período em que foi descoberto envolvimentos da entidade na compra de resultados de jogos do campeonato, alcançando um prejuízo do capital de mais de 50%.

Foi na Juventus também onde teve recentemente a principal notícia envolvendo o mercado financeiro. Buscando aumentar a competitividade em competições europeias, após um período de hegemonia em campeonatos nacionais, o clube italiano decidiu fazer uma negociação ousada e trouxe para o clube o 5 vezes melhor do mundo Cristiano Ronaldo em julho de 2018. Desde o anúncio de sua chegada até 11 de janeiro de 2019, as ações do time já subiram cerca de 40%.

No entanto, a contratação do craque português também trouxe efeitos negativos às finanças do clube. a contração elevou os gastos do clube, o que fez aumentar as dívidas. Apesar disso, um aumento da receita das bilheterias e um adicional de maior publicidade podem impactar positivamente as finanças do clube, mas é importante lembrar que os valores de cotas de TV, uma das principais fontes de renda dos times, não mudam.


Mas todas essas implicações contábeis não afetaram tanto quanto a acusação de estupro contra o jogador português. Em 5 de outubro de 2018, quando surgiu a primeira notícia da acusação, as ações da Juventus despencaram 5% em um dia. Casos de escândalos como esse podem afetar bastante o preço das ações de diversos clubes ao redor do mundo, como o já abordado no capítulo passado o caso do jogador Liédson, do Sporting Lisboa, que após trocar socos com o diretor de futebol do clube, viu os preços do clube na Bolsa de Lisboa caírem 5,47% no dia seguinte.


Outro impacto importante daquilo que acontece em campo com o que acontece nas bolsas de valores está em relação ao calendário esportivo. No estudo do Diego Rodrigues Boente, analisou-se também a relação entre o aumento da volatilidade das ações dos clubes em relação ao calendário futebolístico. O que o estudo concluiu é que nos meses de janeiro, junho e julho (meses onde ocorrem as principais transações de atletas entre os clubes) são meses bastante voláteis para as ações esportivas, grandes investimentos em jogadores podem diminuir os dividendos e com isso diminuir o valor das ações. Os meses de Abril e Maio também são bastante voláteis para o mundo do esporte, pois sãos os meses onde ocorre o término dos principais campeonatos da temporada europeia, o resultado dos times em campo pode afetar positivamente ou negativamente as ações dos clubes.

Para um clube de futebol, abrir o capital na bolsa pode ser bastante benéfico, a possibilidade de investimento com IPO, debêntures e SEO podem ajudar o clube a manter a saúde financeira, além de elevar o padrão da administração do clube a um patamar de empresa acionária. Por outro claro, os altos riscos envolvendo o negócio e a volatilidade das ações que podem ser impactadas pelas ações em campo ou não, tornam tal tipo de investimento ainda muito turvo para muitas pessoas. Histórias como a da Juventus e a complexidade fundamentalista vinda do CR7 são um grande exemplo da diferença que é investir em um clube de futebol e em uma empresa tradicional.

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