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O que esperar da Economia Brasileira para 2019

O ano de 2019 é a aposta dos economistas para ser o ano que o Brasil efetivamente sairá da maior recessão de sua história. Nem em períodos hiperinflacionários tivemos tanta dificuldade para superar uma crise. O motivo principal dessa demora, mesmo com tanta capacidade ociosa e o juro em baixa histórica, é a incerteza. O Brasil passa por conturbações políticas e econômicas intensas desde 2014, que coincidiu com um momento de muita incerteza no mundo.

Para entrarmos na nossa tese de expectativas, faremos uma breve retrospectiva do que ocorreu em 2018, e a partir disso, descreveremos nossos cenários base e alternativo para a economia brasileira no próximo ano.

Cenário Macroeconômico em 2018


Internacional


Ao longo de 2018, fundamentalmente dois temas dominaram o noticiário econômico: as tensões comerciais entre EUA e China, e a trajetória ascendente da taxa de juros nos países desenvolvidos, sobretudo nos EUA. Iniciadas no início do ano pelo Presidente americano Donald Trump, as tensões comerciais tem causado preocupações nos mercados financeiros devido às revisões quanto ao crescimento global até 2019, negativamente impactado pelo crescente protecionismo. A economia global, que vinha crescendo com maior vigor, demonstra sinais de perda de força, e o crescimento já não é homogêneo como foi a marca dos dois anos anteriores. Embora os EUA continuem com bons números de crescimento, é pouco provável que se mantenham nos próximos trimestres, dado que os efeitos do corte de impostos do início de 2018 tem perdido força, enquanto que, por outro lado, os efeitos do aumento gradual da taxa de juros pelo Fed tem surtido efeitos na economia americana.

Ao mesmo tempo, há riscos crescentes de uma desaceleração mais acentuada do crescimento da China, potencializados pela tensão comercial, embora as exportações já não apresentem a mesma participação no PIB chinês como em anos anteriores. Os efeitos da guerra comercial na economia chinesa já são factíveis, com forte incerteza projetada para o desfecho das tensões comerciais. A diminuição das exportações chinesas impacta negativamente nas importações do país que, por sua vez, afeta diversos parceiros comerciais, de emergentes a países centrais.


As perspectivas não tem sido otimistas quanto a uma trégua definitiva - para além do cessar-fogo de 90 dias firmado na reunião do G20 -, e, diante do cenário de desaceleração global, o presidente do Fed, Jerome Powell disse que, em sua visão, a taxa de juros está “mais perto da taxa neutra dos EUA”. Isso indicou ao mercado que o fim do ciclo de aperto monetário podia estar mais próximo do que se esperava. Além disso, há um outro fator que aumenta a aversão ao risco dos investidores no final de 2018: a incerteza quanto ao Brexit, que pode se dar por uma abertura mais ou menos brusca.


O ambiente internacional tensionado pressionou as economias emergentes, afetando principalmente 2 países: Turquia e Argentina. Ambos os países estão mergulhados em crises políticas e com as finanças públicas desequilibradas. O peso Argentino chegou a perder mais de 50% do seu valor frente ao dólar, enquanto a lira Turca desvalorizou mais de 40% frente à moeda americana. O banco central do país presidido por Maurício Macri elevou a taxa básica de juros para 60% a.a, para conter a inflação e a fuga de capital do país. Já o país governado pelo ditador Recep Erdogan precisou frear a política econômica expansionista e adotou algumas medidas como elevar a taxa de juros para 24% a.a. Todo esse cenário instável influenciou os investidores a migrarem seus capitais de países emergentes para países desenvolvidos.

Nacional


A profundidade da crise pela qual passamos afetou profundamente a criação de novos postos no mercado de trabalho. O Brasil conta hoje com 12,5 milhões de desempregados e 38 milhões de pessoas na informalidade, enquanto o nível de utilização da capacidade instalada fechou outubro em 77%. As perspectivas apontam para um protagonismo em crescimento do trabalho informal e na sua capacidade de estimular o consumo para que posteriormente sejam formuladas novas vagas com carteira assinada. A diminuição efetiva das taxas de desocupação da economia brasileira depende de um crescimento consistente e contínuo e em um momento de expectativas formadas pelos investidores. As chances de um ambiente propício para trazer a taxa de desemprego novamente ao patamar de 1 dígito, permanece baixa até o momento.


O primordial tema para a formação de expectativas quanto ao cenário macroeconômico brasileiro é a possibilidade de reformas estruturais serem implementadas, dentre elas a da previdência, tida como a de maior importância. Foi isso que, fundamentalmente, fez o câmbio e o IBOVESPA, por exemplo, oscilarem durante o período eleitoral: incerteza quanto às reformas. Não havia tanta clareza quanto à defesa da necessária implementação delas, ou da força política de seus defensores. No atual momento, porém, há notável menor incerteza. Um político que vinha defendendo reformas, por meio de seu principal economista e provável Ministro da Economia, Paulo Guedes, e que conquistou a segunda maior bancada da Câmara Federal, foi eleito Presidente da República. Seu método de negociação com o Congresso tem sido, pelo que as últimas semanas demonstraram, lidar com bancadas temáticas, ao invés de partidos políticos, e buscar seus apoios em assuntos para além dos temas que usualmente tais bancadas defenderiam.


Ainda pairam algumas incertezas. Não houve, até o presente momento, a apresentação de qual seria a reforma da previdência que o governo Bolsonaro defenderia. Surgiram, desde a eleição, alguns indícios de escândalos envolvendo pessoas próximas ao Presidente-eleito, o que pode causar corrosão de sua base de apoio político antes que a aprovação das reformas seja possível. Por agora, o cenário até o final desse ano está praticamente definido, com o Congresso entrando em recesso nessa semana e todas as importantes definições deixadas para o próximo ano.


Cenários para 2019


Internacional Base

No dia 16/11, o Presidente dos EUA, Donald Trump, disse que pretendia adiar a elevação das tarifas sobre produtos chineses que anteriormente havia anunciado, pois o governo chinês encaminhará medidas para aliviar as tensões comerciais. As negociações haveriam de evoluir, pois faltavam algumas medidas a serem adotadas pelos chineses, de acordo com Trump. No entanto, isso demonstra que existe considerável possibilidade das tensões comerciais serem acalmadas. O crescimento global já terá sido afetado, e certamente o comércio internacional não se dará exatamente da forma como anteriormente. Essa tese é reforçada pelo pronunciamento, na reunião do G20, de que as normas para o comércio internacional deveriam ser reformuladas na OMC. Dado o impacto no crescimento global, o Fed não deve aumentar tanto a taxa de juros como inicialmente esperavam os mercados financeiros. Isso é fator que, por si só, impacta negativamente o dólar frente às demais moedas.

No entanto, o cenário de aversão ao risco pode continuar se fortalecendo. Recentemente, a diferença entre os rendimentos dos títulos públicos americanos com vencimento em 10 e 2 anos atingiu valor mínimo em mais de 10 anos depois de queda abrupta. A inversão no retorno desses títulos, que ainda não aconteceu, é fato que ocorreu nas últimas três recessões do país.


Nacional Base

O cenário nacional é dependente da implementação das reformas. Dada a natureza da articulação política de Bolsonaro - desde os apoios arregimentados por ele antes e durante a campanha eleitoral, até as escolhas de composição de seu Ministério - , é bastante provável que ele mescle reformas econômicas elaboradas pela equipe de Paulo Guedes com propostas que apelem à sua base de apoio popular ou às bancadas temáticas que o apoiarão de início. Dessa forma, minimizará o desgaste natural da aprovação de medidas como a reforma da Previdência. Isso diminuiria consideravelmente o risco e a incerteza da economia brasileira, e possivelmente aumentaria a atratividade do Brasil como destinatário de investimentos internacionais. Em cenário de aversão ao risco, isso se estabelece como fator positivo para evitar depreciação acentuada do câmbio no final de 2019, dada a descrição do cenário internacional já feita.


Pela diminuição do risco-país, aliado à pressuposição de que a taxa de juros dos EUA aumentariam menos que anteriormente esperado, o BACEN seria menos pressionado para aumentar tanto a SELIC, podendo mantê-la abaixo dos 8% e, mesmo assim, estabilizar o câmbio ao longo de boa parte de 2019. Diminui ainda mais essa pressão o fato de que a capacidade instalada do Brasil está subutilizada, o que facilita a estabilização da inflação em patamares baixos. As custosas reservas internacionais que o Banco Central do Brasil carrega servirão como saudável fator de segurança para a eventualidade de uma nova crise internacional. Dessa forma, o câmbio não teria variações muito acentuadas, visto a atuação do BACEN em situações de oscilação brusca. Em comparação com o cenário alternativo, o investimento estrangeiro no país terá alteração baixa, podendo ser um pouco maior ou menor que o atualmente estabelecido.


Nacional Alternativo

O cenário nacional alternativo é o de fracasso na implementação das reformas econômicas. Isso pode se dar tanto por desinteresse político do novo governo como por queda acentuada da popularidade ou falta de apoio do Congresso Nacional. Diversas vezes o Presidente-Eleito desautorizou o eventual Ministro da Economia Paulo Guedes em determinados assuntos, como o imposto único, ainda na fase de campanha eleitoral. As reformas, por si só, não são populares, pois em determinados pontos implicam que parcelas da população deverão fazer sacrifícios para que as contas públicas se equilibrem. E, pelo terceiro ponto, existe a possibilidade do apoio das bancadas temáticas - volátil por natureza - não ser efetivado quando da discussão das reformas estruturais da economia.


O risco-país, controlado atualmente pela suave recuperação da economia e também pela expectativa de continuidade das reformas, certamente teria expressivo crescimento. O câmbio terá depreciação, ainda mais em cenário de aversão ao risco pelos investidores internacionais. A força da depreciação se acumulará ao longo de 2019, acabando por refletir-se, pelo efeito pass-through, na taxa de inflação e, eventualmente, nos juros, que poderiam ser aumentados para segurar a depreciação. Outra alternativa seria intervenção mais frequente do Banco Central no mercado cambial, o que não deve acontecer na magnitude necessária para conter a depreciação, ainda mais considerando o fato de que poderiam ocorrer problemas no balanço de pagamentos

O investimento direto estrangeiro no país teria vigorosa redução, nesse cenário. Por causa disso, o balanço de pagamentos seria impactado e, portanto, negativamente nas reservas internacionais. A diminuição das reservas internacionais, se levada ao limite, reforçaria o vigor da retirada de capitais.


Conclusão


Pelo cenário internacional traçado, e independente do cenário nacional que vier a se concretizar, a manutenção das reservas internacionais em patamares elevados confere ao Brasil segurança e proteção contra choques cambiais. Portanto, apesar de o câmbio depreciado no cenário alternativo favorecer uma eventual venda das reservas cambiais, isso não deveria ser feito pelo BACEN em volume grandioso, pois o possível cenário internacional adverso nos próximos anos tornará a moeda brasileira menos valorizada perante as demais, visto que haverá fuga de capitais para países mais seguros, sobretudo no cenário alternativo.

O patamar no qual o câmbio USD/BRL está atualmente fundamenta-se em expectativas acerca do risco futuro da economia brasileira. Da forma como a economia está no presente momento, caso não houvessem reformas, o câmbio certamente sofreria forte pressão depreciativa. Conclui-se, a partir disso, que a implementação de reformas é crucial para diminuir a percepção de risco e assegurar a estabilidade cambial.





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