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Razão ou emoção: quem manda no mercado?

Atualizado: 21 de nov. de 2020

Bruno Spector

Na década de 60, um economista americano chamado Eugene Fama surgiu com uma teoria que iria revolucionar o mundo das finanças para sempre, publicada em um artigo denominado de "Hipótese dos Mercados Eficientes" (HME). Segundo seu pensamento, o preço de mercado dos ativos (ações mais especificamente) corresponde exatamente ao seu valor justo. Ou seja, não existem ações caras ou baratas, devido a eficiente e racional capacidade dos agentes de mercado em atribuir todas as informações disponíveis ao preço dos ativos.


Logo, de acordo com a hipótese dos mercados eficientes, não fazia sentido um investidor, por mais apto e competente que fosse, tentar superar os rendimentos do mercado - representado por um benchmark, os ETF’s. Essa teoria rapidamente encantou a academia e assustou Wall Street, visto que colocava em risco o trabalho da gestão ativa de capital.


No entanto, pouco tempo depois ela começou a se espalhar e ser aceita entre grandes analistas, gestores e investidores dos principais distritos financeiros mundiais. Com isso, homens de negócio adeptos a teoria, viram uma oportunidade e criaram um produto que revolucionou o mercado financeiro e a forma de investir: os fundos indexados a um benchmark. Isso significa que agora um investidor conseguiria ter um rendimento muito similar ao dos grandes índices das bolsas, como o Standard & Poor 500, ou então, aplicado à realidade brasileira, o Ibovespa.


Para se ter uma ideia da dimensão da aceitação dessa teoria pelo mercado, hoje esses fundos têm captado um valor de aproximadamente 6,18 trilhões de dólares, e academicamente rendeu a Gene Fama um prêmio Nobel de Economia em 2013. Portanto, para milhões de investidores adeptos à HME, a melhor forma de se investir é por meio de fundos de gestão passiva que replicam a composição de índices.


Entretanto, nos últimos anos surgiram diversos estudos que colocam em dúvida essa eficiência dos mercados. O campo de pesquisa responsável por tais estudos é conhecido como finanças comportamentais e tem ganhado bastante popularidade atualmente. Alguns dos principais pensadores desse campo já foram também ganhadores de prêmios Nobel, como Daniel Kahneman e Richard Thaler. Essa vertente de pensamento se propõe a explicar alguns eventos que, conforme a hipótese de Fama, não deveriam ocorrer.


Exemplos disso são: a bolha das empresas de internet nos anos 2000 e a crise financeira do subprime que ocorreu em 2008, nas quais os ativos foram precificados de maneira errônea pelo mercado, resultando no colapso de seus preços. Segundo a teoria das finanças comportamentais, o mercado é, em certos momentos, mais emocional que racional.


Essa é exatamente a característica responsável pelos movimentos que ocorreram anos antes da bolha das ".com" estourar, em que as empresas de internet se valorizavam a patamares nunca vistos antes e sem embasamento lógico que justificasse esses preços. Nesse caso, o sentimento predominante no mercado era o de euforia. E, como se sabe, esses movimentos foram seguidos por quedas expressivas nos valores dos ativos (quando a bolha estoura e os investidores vendem suas ações a preços extremamente abaixo do seu valor justo. O sentimento predominante no mercado, então, é o pânico).

Com isso, fica evidente que no mundo das finanças existem teorias que, por óticas diferentes, buscam compreender o comportamento dos mercados. Mas, isso não significa que uma teoria está certa e a outra errada, mas que ambas possuem mecanismos que explicam de forma singular os acontecimentos nas bolsas de valores. Devido ao fato dos mercados se tratarem de organismos vivos, a compreensão de seu funcionamento se torna algo extremamente complexo. Portanto, cabe ao senso crítico de cada indivíduo escolher por qual ângulo encarar o enigmático universo das finanças.

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