Por Agda Amélia
Quem você admira no mundo das finanças? Warren Buffett, Jorge Paulo Lemann? Em algum momento você pensou em uma mulher como inspiração no mercado de capitais?
Diante dessas indagações, apresenta-se Eufrásia Teixeira Leite, a primeira mulher a investir na Bolsa de Valores no Brasil, além da façanha de operar simultaneamente em 18 países e 9 moedas diferentes. Diversos fatos surpreendentes cercam essa história do século 19, a começar pela coincidência dela ser brasileira e presenciar um cenário no qual as mulheres eram proibidas de ocupar cargos políticos, cursar o ensino superior e eram tratadas como propriedade masculina.
O primeiro contato de Eufrásia com o mercado de capitais ocorreu durante sua juventude, quando começou a frequentar reuniões e assistir aos pregões do 2° andar da Bolsa de Valores de Paris - pois era proibido que as mulheres ficassem no mesmo espaço que os homens, os quais realizavam as negociações no salão principal. Assim, ela, que recém havia perdido os pais - somado ao anseio de perpetuidade de sua herança -, começou a investir por intermédio de homens. A novata investidora anotava as ordens em boletas e os intermediários executavam.
Expõe-se que a situação de Eufrásia não era só acertar nas operações de compra e venda de ações, pois quando uma mulher erra todas as mulheres são culpadas pelo erro. Assim, teve que passar pela mídia machista em que afirmava a instabilidade emocional feminina como fator para não serem investidoras. Assim como o julgamento por participar de encontros sociais que colaboravam com seu conhecimento para operar (pois mulheres que participavam ativamente desses encontros eram vistas como fáceis).
Além disso, no auge da sua juventude se apaixonou por um rapaz que a pediu em casamento e Eufrásia o recusou. O motivo? O rapaz exigia se casar no Brasil e, assim, todo patrimônio dela passaria para ele pela lei da época: mulheres casadas não podiam ter conta bancária em seu nome.
Entretanto, nenhum desses obstáculos impediu Eufrásia Teixeira Leite de ser bem-sucedida nos negócios. Posteriormente, construiu credibilidade e conquistou aceitação de um banco para realizar alavancagens com margem de 10%. Em seguida, ela decidiu operar na Bolsa de Londres.
Acrescenta-se, ainda, que com a morte da sua irmã e consequentemente com o ganho da herança, Eufrásia decide operar em mais um país. Nesse momento, na Bolsa de NY, uma decisão muito certeira, pois com a Guerra Mundial, a bolsa norte-americana explode. Com o afastamento masculino, o governo estimulou as mulheres a investirem em títulos de dívida para financiamento da guerra e, além disso, o país se tornou um importante credor e exportador de alimentos.
A dedicação ao trabalho da primeira investidora é notável. Eufrásia controlava seus investimentos, calculava a conversão da taxa de câmbio e de seus rendimentos estrangeiros, organizava o fluxo de capital entre os países que investia e todas as manhãs se dedicava a estudar o mercado. Quando decidiu operar em NY, teve que trabalhar mais por causa dos fusos horários, e adiantava seu almoço para estar presente nas reuniões e decidir sobre seus investimentos.
Por fim, todo seu trabalho foi reconhecido por uma revista francesa que nomeou os milionários franceses. Soma-se ao fato de sua herança ser aproximadamente duas toneladas de ouro - vários valores se perderam - que foram utilizados na construção de um hospital, de uma escola em Vassouras (RJ) e parte em compra de Títulos Públicos para continuidade dessas instituições que visavam atender os mais necessitados, sem distinção.
Assim, uma mulher no século 19 que não se casou, não teve filhos e conquistou sua independência financeira estava muito à frente do seu tempo e, portanto, deve ser exaltada por sua alta performance no mercado de capitais e vida!
Uma homenagem do Núcleo de Mulheres a todas as Eufrásias.
Fonte: #QueroSerEufrásia.
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